Diálogos

Diálogos (1) – Billie & Bert, questões paternas / Resident Evil (Netflix)

Veja bem, não estou dizendo que a série de Resident Evil da Netflix é boa, porque honestamente ela é repleta de problemas. Vale a pipoca se você não se irritar com uma condução de roteiro problemática. E mesmo aos trancos e barrancos, se houver uma segunda temporada, admito que volto para ver o que mais dá para fazer nesse universo.

Mas o objetivo desta publicação é destacar um diálogo que ocorre no último episódio desta primeira temporada (Revelações, T1:E8). Não é um diálogo digno de um Oscar, mas é um argumento bem pontuado, em torno de um problema que ali se apresenta, e que se resolve com uma conversa.

A cena em questão ocorre em torno de 33 minutos do episódio, quando Billie Wesker está em meio a um alucinação que resulta em um ataque de pânico ali, em meio ao prédio da Umbrella a qual todos os personagens estão tentando escapar. Bert, “tio” da jovem, surge em cena e consegue acalmá-la, e aí retomamos a urgência de escapar do local.

Segue o diálogo (transcrito da versão legendada da Netflix), a parte interessante está em destaque:

Billie — Preciso sair daqui.
Bert  — Certo. Vamos Achar seu pai.
Billie — Não.
Billie — Eu não quero saber dele. Ele não se importa comigo.
Bert  — Claro que se importa.
Bert  — Quando ele foi preso, ele só queria salvar vocês.
Billie — Porque somos o remédio dele. O nosso sangue o mantém vivo.
Bert  — E daí?
Billie“E daí”?
Bert  — Meu pai precisava de mim e dos meus irmãos. Ele nos manteve presos por muito tempo. Nós só conhecemos o sol depois que crescemos.
Bert  — O Albert não é assim. Ele deu uma vida a vocês. E talvez…

Bert  Não estou dizendo que ele estava certo, nem que era bom, mas… dava pra ser muito pior.
Billie E isso anula os problemas?
Bert  Não, mas… bom, talvez isso não exista.
Bert  Talvez a vida seja um punhado de acidentes e tragédias… e ninguém esteja bem. Cada um só tenta fazer o melhor, em um mundo onde fazer o pior é sempre muito fácil.
Bert  O seu pai ama vocês. Talvez da maneira dele, distorcida. Se você parar pra pensar, o amor é assim normalmente.

Bert  — Mas se você quiser, podemos deixá-lo.
Billie — Se fizermos isso… o que acontece?
Bert  — Coisas ruins.

De novo, não estou dizendo que o roteiro da série é algo fenomenal, ou até mesmo que é um diálogo épico, contudo é um diálogo que chamou a minha atenção. Gosto de como seu argumento quebra, ainda que momentaneamente, todo o sentimento negativo que Billie está tendo por seu pai, que de fato mentiu e ocultou informações sobre suas filhas a temporada inteira.

É muito boa a fala sobre a vida ser repleta de acidentes e tragédias e que nesse mundo é muito mais fácil fazer o pior do que o correto. E ainda engata uma fala sobre amar é distorcer um pouco a visão que temos sobre aqueles que amamos. É uma excelente reflexão, e por isso resolvi trazer pra cá.

Justifica perdoar um abuso ou qualquer coisa nesse sentido? Claro que não, mas a cena não é sobre perdão, mas sobre abandonar, o que é algo completamente diferente. Ali, na ficção da narrativa, abandonar o pai à mercê da Umbrella, não era a coisa certa a se fazer.

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